Saturday, April 23, 2005


Marcelo d´Salete Posted by Hello

Terror Naturalista

Marcelo d´Salete tem estilo bem marcado nas suas hqs de contrastes gráficos e sociais. É terror naturalista por que as suas personagens se deslocam numa urbe onde as vidas são restos humanos nas páginas com texturas e ruídos cinzas. D´Salete desenha linhas e manchas que detalham tudo e contraditoriamente também simplificam. É visível que a mão do desenhista tem contato com a frieza que ele registra, deixando as suas personagens rígidas num ambiente onde tudo ostenta pouco valor. Geralmente ele desenha as suas personagens com olhares negros, dois pontos escuros numa face de pedra e rugas, são como tubarões.
Sinto nos seus desenhos um pouco de Dave Mckean e Muñoz, isso torna as suas histórias um outro patamar de leitura. Seu universo não é de fácil acesso, as suas histórias possuem uma complexidade onde na primeira leitura reconhecemos os sentimentos desencontrados no cosmos das cidades brasileiras: desconfiança e terror do outro que se aproxima em situações ordinárias nas ruas, nos bares, nos parques, elevadores e as escadarias. Começamos lendo as suas hqs sabendo que alguma coisa não vai dar certa com as suas personagens, a tragédia é marcada nos enredos e traços.
A cidade está presente como entranhas de um monstro que vai espremendo os seus vermes humanos. A narrativa tem um processo de invenção que lembra uma colagem por que há mudanças de enfoque,tornando as cenas na primeira leitura uma complexidade vertiginosa. As suas histórias são próximas de Rubens Fonseca devido à maldade brasileira disfarçada de malandragem. Mesmo assim há pingos de inocência no lodo.
Bom, isso pode ser tudo uma viagem minha, mas quem quiser experimentar a receita da viajem está no site www.dsalete.art.br . Depois é ler ou reler essas histórias bacanas.

Friday, April 15, 2005


D. W. Posted by Hello

quadrinhos brasileiros

D W é bom pra caralho!
Hoje vou mudar o foco sobre os quadrinhos, vou falar sobre quadrinhos nacionais e atuais. Ontem li uma hq do D. W. que é um autor de quadrinhos que publica na www.nonaarte.com.br , um autor que tem uma narrativa próxima dos quadrinhos do Miguelangelo Prado, penso aqui no álbum Tangências, mas o foco da narrativa é de um universo próprio e naturalista.
D. W. escreve quadrinhos sobre pessoas comuns, aquelas que passam por nós nas padarias, ou que encontramos na frente dos espelhos. As histórias vão para o outro lado da trincheira dos quadrinhos nacionais, não são contos de humor, são contos que o humor é trocado pela dor. Personagens são transformados pelo câncer. Uma das suas mais belas histórias é sobre um homem que acompanha o estágio terminal da amante. Outra que tem o humor, mas não é gratuito, é sobre encontros e desencontros provocados em banheiros nos bares. Quem aqui não comeu ou não quis comer um petisco no banheiro de um boteco?
As personagens de D. W. bebem, fumam, estão cansadas, apaixonadas, desencantadas com a vida e o que é melhor, elas vivem no Brasil. Sem nacionalismo aqui, mas ver os cenários que me identifico é mais afu.
Outro quadrinhista que o cara lembra é o espanhol Max. Um pincel bem expressivo que valoriza os sentimentos das personagens o tempo inteiro, os olhos desconfiados, sempre de canto, não querem revelar o que pensam. Personagem reservados vivendo as suas sagas intima no cotidiano de uma cidade grande. Há um certo registro do cepticismo nos quadrinhos do D. W., me parece que o cara é carioca, mas sem o clichê praia e samba. A urbe fala alta e com nível nas suas narrativas gráficas.
D. W. é bom pra caralho!

Saturday, April 09, 2005


Resolvi escolher essa imagem para não ser um tiragosto. É bom mostrar, mas não entregar o que resultou essa cena e a conclusão dela.  Posted by Hello

Lobo Solitário.

O que estou lendo de quadrinhos no momento é o Lobo Solitário, ou melhor, estou relendo. Li nos saudosos anos oitenta, lá por oitenta e sete ou oitenta e oito, eu ainda era um guri que imaginava ser um futuro quadrinhistas. Tinha como admiração e influências Miller, Moebius, e todos que alimentaram a nona arte naqueles anos. Acho que a primeira vez que eu tive contato com o Lobo Solitário foi com menos de dez anos, na década de setenta ou início dos oitenta, lembro de ver episódios da série de tv (Hoje lembro mais da sensação de ver e algumas umas imagens, como uma cena do Daigoro correndo perto de um lago. Já não recordo dos enredos), isso devia ser no início da rede de tv SBT, Sílvio Santos foi quem me apresentou o Lobo Solitário. Quem diria?
Frank Miller é que tem como um dos seus principais mestres Goseki Kojima, um dos desenhistas mais impressionantes nas histórias em quadrinhos. Seu traço é direto, feito com pincel e pena, é um desenhista de estilo próprio que desenha em função da narrativa. (São tão poucos hoje!) A decupagem das cenas e planos é precisa, o ritmo está sempre na harmonia certa, não há exageros, nenhum quadro há mais, nenhum quadro a menos. Os olhares das personagens desenhadas são tão expressivos que se pode sentir as personagens sentindo e pensando. E o principal é o ritmo da ação e os movimentos, desculpem os fãs de ¨O Tigre e o Dragão¨, de ¨Kill Bill¨ e de ¨Herói¨, mas ainda me impressiono mais as cenas de batalha de Itto Ogami, o lobo solitário. Mais um ponto sobre essa obra de arte, o aprofundamento do Zen Budismo.
Os roteiros têm a mítica de como se contar bem uma história, contos gráficos narrados de igual com os mestres da literatura. Pode parecer exagero meu para a classe literária (isso é pra vocês, amigos contistas), mas Kazuo KoiKe é tão bom quanto Jack London e Borges. Insuperável pela sua síntese e interação com as imagens.
Bom, vou parar por aqui e continuar a ler.

Renascendo do Caos

O Arquivo-Quadrinhos começou parando, mas agora retorna. Vou manter o mistério do por que parou. Para aqueles que já me conhecem, sabem que tenho como parte da minha personalidade esse estilo de se desintegrar, sumir desse planeta, ir para o universo Ferreteria. Quando desapareço é por que estou produzindo ou sem grana para pagar as contas. Verão é foda! Passei o verão trabalhando, suando, com a maioria dos meus cachês atrasados, e misteriosamente a minha linha telefônica sumiu. Isso fez com que eu desse um tempo com essa vida virtual. Bom, essa parece uma explicação justificável. Sei.... há uma outra versão dos fatos envolvendo teorias metafísicas e alucinógenas, mas essa fica para eu manter a minha áurea de mistérios.
Consideramos então, o reinicio de uma nova fase do Arquivo-Quadrinhos, que prometo agora atualizar mais seguida com tudo que diz a respeito sobre o universo dos quadrinhos.
Obrigado a todos!

Saturday, November 27, 2004


Osterheld e Breccia Posted by Hello
As melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos

Hoje, quando o assunto é quadrinhos, talvez as primeiras imagens que vem as nossas cabeças são os super-heróis ou as revistinhas infantis como Mônica e Cebolinha. Mas os leitores mais atentos sabem que existem outras diversas referências que navegam pelo oceano das narrativas gráficas. Há quadrinhos que se propõem a serem mais humanos que os super heróis, há gibis que estão voltados para um público adulto. A nona arte está recheada dessas carismáticas personagens como Corto Maltese, Little Nemo, Spirit, Valentina, Love and Rockets, Alleck Sinner e Mort Cinder entre outros.

Mort Cinder

Quando o assunto é história de horror para adultos Alan Moore e o Monstro do Pântano são um marco, uma ruptura com uma Era onde eram superficiais as narrativas gráficas. São vários os conhecedores dos quadrinhos que ditam que ali foi quando o quadrinho adulto começou, mas esses conhecedores são embriagados com os comics. Se fossem mais atentos a pluralidade das nações da cultura das hqs e a história das histórias em quadrinhos, diriam que os quadrinhos já nasceram adultos e que foram infantilizados com as décadas seguintes por ignorância ou por ganância.
Mort Cinder não pertence às origens dos quadrinhos, mas tem a posição de extrema importância ao aprofundamento da narrativa gráfica com a Arte. O que Edgar Allan Poe trouxe para a literatura, Munch trouxe as artes-plásticas e Fritz Lang ao cinema; Héctor Osterheld e Alberto Breccia trouxeram para os quadrinhos. Todos eles carregaram as artes com o preto sobre o branco. Massas de sombras, o mais profundo negro, uma metáfora do imperialismo da morte sobre a vida. A Luz são suspiros, respiros entre a deformidade do escuro.
Dá medo quando os nossos olhos passeiam pelos desenhos de Breccia. Sentimos um calafrio por que é sua visão do mundo registrado nas páginas, sentimos frio, umidade e muita solidão. Com o texto de Osterheld não é nada diferente, nos sentimos presos por correntes, num labirinto de metáforas e questionamento. Uma vez me disseram que há um lado trash ali, um pouco de cinema b. Se pensarmos nas histórias como iscas e os leitores como peixes eu diria que há uma razão para a série Mort Cinder ter nos episódios extraterrestres, viagens no tempo, imortais e fantasmas. Houve quem comparou a Scooby-Doo, porém sério. A razão é que essas temáticas nos tiram do nosso cotidiano e nos entretém para mexer um pouco com o nosso inconsciente. Sombras e o escuro, quando somos crianças temos muito medo deles e quando nos tornamos adultos o chamamos de fantasmas e extraterrestres, mas é através deles que criamos os nossos conceitos de ceticismos e crenças. Então essas hqs são um exercício da razão. Os principais personagens dessas histórias são as sombras, voltar a andar no escuro dentro de casas abandonadas e matas. Viajar no tempo e sentir a imortalidade.
Mort Cinder foi originalmente publicado na Inglaterra na década de cinqüenta e é de autoria de Argentino e de um Uruguaio. É um imortal que se torna amigo de Erza, dono de um antiquário com diversos objetos antigos. Cada peça do antiquário possui um vínculo com Mort Cinder, as vezes são lembranças das épocas outras vezes são um vínculo maior, mas falar disso seria estragar a surpresa para o leitor.

No próximo post : Mort Cinder segunda parte.

O início da aventura